
Com o ar do tempo, a costura à moda antiga perdeu um pouco de espaço com as transformações promovidas pela modernidade, no entanto ainda existem pessoas que investem nessa nobre profissão, a exemplo do alfaiate, José Jerônimo Cardoso Moraes, de 64 anos.
A profissão de alfaiate é aquela que se dedica ao público masculino, realizando consertos e fazendo roupas como calça, paletó, camisa, colete ou blazer. José Jerônimo contou ao Acorda Cidade que começou na profissão muito novo, com 17 anos, por influência do seu pai.
“Naquela época eu estava doido para arrumar um emprego, meus irmãos já estavam trabalhando e eu falei assim: ‘vou ter que arrumar um emprego’. Aí meu pai falou para eu ir trabalhar com ele, e eu não sabia fazer nada, então ele falou que eu iria começar comprando o material e aos poucos ele foi me ensinando. Em 76 fomos para São Paulo, meu pai resolveu montar uma alfaiataria, levamos uns 8 meses lá, aí ele ganhou um carro aqui na Bahia em um consórcio e voltou. Não pôde voltar para São Paulo, porque tinha muito problemas para resolver aqui também e daí eu tive que voltar. Eu só sabia fazer calça, não sabia fazer camisa ainda, e fazia uns consertos, então continuei aqui na Bahia,” explicou.
José relatou que resolveu investir na profissão, porque estava gostando de costurar e seu pai também o aconselhou a trabalhar para si mesmo.
“Meu pai falava: ‘você vai ser empregado dos outros">
Diferença de um alfaiate versus costureira
“Geralmente o corte de um alfaiate ou ele é italiano ou ele é inglês, as costureiras normalmente aprendem em cursos de Corte e Costura, com alguém que muitas vezes não sabe o tipo de corte que eu tô falando. A diferença é grande, uma costureira não vai ter condição de fazer uma calça, paletó, colete, pode ser que ela seja curiosa, mas é muito mais difícil. Um alfaiate, por exemplo, não faz vestido, é outra linha diferente. Quando chega um cara gordinho, preciso mudar o corte, o meu corte é italiano e adaptei ao corte inglês, cada país possui corpos diferente e o alfaiate tem a habilidade de adaptar,” disse José.
Um alfaiate ajusta paletó, faz modificações e se adapta ao que a moda está ditando na atualidade. Como descreveu Jerônimo.
“A manga do paletó hoje está se usando um pouco mais curta, a gente dá uma arrumada nela; a calça tem que ajustar toda, antes era mais folgada, mas hoje em dia as calças são mais justas; Calça jeans também conserto, dou um jeito de fazer a linha na cor do tecido que veio, é trabalhoso…, o acabamento é diferenciado, a linha da calça jeans, por exemplo, não tem cor para essa linha, a gente é obrigado a misturar três cores de linhas para que fiquem da mesma cor da original, e tem aquele efeito de lavagem que a calça tem, então a gente tem que saber onde mexe, eu acredito que uma costureira não tem essa técnica,” apontou.
O alfaiate Moraes diz que o prazo de entrega que ele costuma dá para os seus clientes é de mais ou menos 30 dias. O trabalho feito de forma artesanal exige formas variadas de testagem e prova da peça de roupa.
“Geralmente dou o prazo de 30 dias, porque tem que dar duas provas, uma quando corta e outra prova de assentamento. Depois tem a terceira fase do acabamento, que leva em torno de 4 dias para terminar. Depois entra colarinho, gola do paletó que é trabalhosa, depois a manga, entretelas, ombreira, forro… tudo feito a mão, é uma coisa demorada, artesanal”, explicou.
Preço justo
Enquanto uma costureira cobra em torno de R$ 10 reais em uma bainha, um alfaiate pode cobrar até R$ 40. Essa diferença de valor se explica por conta dos materiais da alfaiataria que muitas vezes só são encontrados em outras cidades e capitais.
“Para o terno tenho dois tipos de tecidos, eu tenho o Tropical , que é parecido com o Tropical inglês que quem fabrica é a Paramount, e o tecido Lã Fria Super 120. A Lã Fria é melhor, mas eu sempre aconselho as pessoas a fazerem com o Tropical, porque é um tecido que se por acaso você esquecer e lavar com água ele não vai encolher, não vai deformar, só que a Lã Fria é diferente, ou você lava a seco, ou você não lava,” descreveu.